6° capítulo

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— Senhor Leôncio, — disse Malvina com voz alterada aproximando-se do sofá, em que se achava o marido, — desejo dizer-lhe duas palavras, se isso não o incomoda. — Estou sempre às tuas ordens, querida Malvina, — respondeu levantandose lesto e risonho, e como quem nenhum reparo fizera no tom cerimonioso com que Malvina o tratava. — Que me queres?... — Quero dizer-lhe, — exclamou a moça em tom severo, e fazendo vãos esforços para dar ao seu lindo e mavioso semblante um ar feroz, quero dizer-lhe que o senhor me insulta e me atraiçoa em sua casa, da maneira a mais indigna e desleal...
- Señor Leôncio -dijo Malvina con voz alterada, acercándose al sofá donde estaba su marido-, quiero decirle dos palabras, si no le molesta. - Estoy siempre a su servicio, mi querida Malvina -respondió él, levantándose, sonriente, y como si no hubiera reparado en el tono ceremonioso con que Malvina lo trataba. - ¿Qué queréis? - Quiero deciros -exclamó la muchacha en tono severo, y haciendo vanos esfuerzos por dar a su bello y enlutado semblante un aire fiero-, quiero deciros que me insultáis y me traicionáis en vuestra casa, de la manera más indigna y desleal...

— Santo Deus!... que estás aí a dizer, minha querida?... explica-te melhor, que não compreendo nem uma palavra do que dizes... — Debalde, que o senhor se finge surpreendido; bem sabe a causa do meu desgosto. Eu já devia ter pressentido esse seu vergonhoso procedimento; há muito que o senhor não é o mesmo para comigo, e me trata com tal frieza e indiferença... — Oh! meu coração, pois querias que durasse eternamente a lua-de-mel?... isso seria horrivelmente monótono e prosaico.
- ¿Qué dices, querida?... Explícate mejor, no entiendo nada de lo que dices... - En vano finges sorpresa; conoces la causa de mi disgusto. Debí prever tu vergonzoso comportamiento; hace tiempo que no eres el mismo conmigo, y me tratas con tanta frialdad e indiferencia.... - Oh, corazón mío, ¿querrías que nuestra luna de miel durase para siempre? Eso sería terriblemente aburrido y prosaico.

— Ainda escarneces, infame! – bradou a moça, e desta vez as faces se lhe afoguearam de extraordinário rubor, e fuzilaram-lhe nos olhos lampejos de cólera terrível. — Oh! não te exasperes assim, Malvina; estou gracejando – disse Leôncio procurando tomar-lhe a mão. — Boa ocasião para gracejos!... deixe-me, senhor!... que infâmia!... que vergonha para nós ambos!... — Mas enfim não te explicarás?
- ¡Todavía te burlas, infame! - gritó la muchacha, y esta vez sus mejillas enrojecieron con un rubor extraordinario, y destellos de terrible cólera brillaron en sus ojos. - Oh, no te alteres tanto, Malvina; estoy bromeando -dijo Leoncio, tratando de tomarla de la mano. - Qué ocasión para bromear... ¡dejadme en paz, señor!... ¡qué desgracia!... ¡qué vergüenza para los dos!... - Pero, ¿no quiere explicarse?

— Não tenho que explicar; o senhor bem me entende. Só tenho que exigir... — Pois exige, Malvina. — Dê um destino qualquer a essa escrava, a cujos pés o senhor costuma vilmente prostrar-se: liberte-a, venda-a, faça o que quiser. Ou eu ou ela havemos de abandonar para sempre esta casa; e isto hoje mesmo. Escolha entre nos. — Hoje?! — E já! — És muito exigente e injusta para comigo, Malvina, - disse Leôncio depois de um momento de pasmo e hesitação. — Bem sabes que é meu desejo libertar Isaura; mas acaso depende isso de mim somente? é a meu pai que compete fazer o que de mim exiges.
- No tengo que explicártelo; me entiendes bien. Sólo tengo que exigir... - Exígelo, Malvina. - Dale a esa esclava, a cuyos pies tan vilmente te postras, algún destino: libérala, véndela, haz lo que quieras. O ella o yo dejaremos esta casa para siempre; y eso hoy. Elige entre nosotros. - ¿Hoy mismo? - ¡Y ahora! - Eres muy exigente e injusta conmigo, Malvina -dijo Leôncio después de un momento de perplejidad y vacilación-. - Sabes que es mi deseo liberar a Isaura; pero ¿depende sólo de mí? depende de mi padre hacer lo que tú me exiges.

— Que miserável desculpa, senhor! seu pai já lhe entregou escravos e fazenda, e dará por bem feito tudo quanto o senhor fizer. Mas se acaso o senhor a prefere a mim... — Malvina!... não digas tal blasfêmia!... — Blasfêmia!... quem sabe!... mas enfim dê um destino qualquer a essa rapariga, se não quer expelir-me para sempre de sua casa. Quanto a mim, não a quero mais nem um momento em meu serviço; é bonita demais para mucama. — O que lhe dizia eu, senhor Leôncio? acudiu Henrique, que já cansado e envergonhado do papel de mudo guarda-costas, entendeu que devia intervir também na querela. — Está vendo?.. eis aí o fruto que se colhe desses belos trastes de luxo, que quer por força ter em seu salão...
- ¡Qué miserable excusa, señor! Tu padre ya te ha dado esclavos y una granja, y considerará todo lo que hagas bien hecho. Pero si la prefieres a ella antes que a mí... - Malvina, no digas semejante blasfemia. - ¡Blasfemia!... ¡Quién sabe!... pero dale por fin algún destino a esta muchacha, si no quieres echarme de tu casa para siempre. En cuanto a mí, no la quiero a mi servicio ni por un momento; es demasiado bonita para ser una criada. - ¿Qué le decía, señor Leôncio? -respondió Henrique, que, ya cansado y avergonzado de su papel de guardaespaldas mudo, comprendió que también él debía intervenir en la disputa. - Verá... aquí está el fruto de estos hermosos trastos de lujo, que usted quiere tener en su salón...

— Esses trastes não seriam tão perigosos, se não existissem vis mexeriqueiros, que não hesitam em perturbar o sossego da casa dos outros para conseguir seus fins perversos...
- Estas basuras no serían tan peligrosas si no existieran viles cotillas que no dudan en perturbar la paz y la tranquilidad de los hogares ajenos para conseguir sus perversos fines...

— Alto lá, senhor!... para impedir que o senhor não transportasse o seu traste de luxo do salão para a alcova, percebe?... o escândalo cedo ou tarde seria notório, e nenhum dever tenho eu de ver de braços cruzados minha irmã indignamente ultrajada. — Senhor Henrique! bradou Leôncio avançando para ele, hirto de cólera e com gesto ameaçador. — Basta, senhores — gritou Malvina interpondo-se aos dois mancebos. Toda a disputa por tal motivo é inútil e vergonhosa para nós todos. Eu já disse a Leôncio o que tinha de dizer; ele que se decida; faça o que entender. Se quiser ser homem de brio e pundonor, ainda é tempo. Se não, deixe-me, que eu o entregarei ao desprezo que merece.
- Alto, señor!... para evitar que llevéis vuestra basura de lujo del salón a la alcoba, ¿comprendéis?... el escándalo tarde o temprano sería notorio, y no tengo el deber de ver a mi hermana indignada. - Lord Enrique! gritó Leoncio, avanzando hacia él, áspero de cólera y con gesto amenazador. - Basta, señores -gritó Malvina, interponiéndose entre los dos jóvenes-. Toda disputa por semejante motivo es inútil y vergonzosa para todos nosotros. Ya le he dicho a Leôncio lo que tenía que decirle; que decida él; que haga lo que quiera. Si quiere ser un hombre de honor y de pundonor, aún está a tiempo. Si no, déjeme, y le daré el desprecio que se merece.

— Oh! Malvina! estou pronto a fazer todo o possível para te tranqüilizar e contentar: mas deves saber que não posso satisfazer o teu desejo sem primeiro entender-me com meu pai, que está na corte. É preciso mais que saibas, que meu pai nenhuma vontade tem de libertar Isaura, tanto assim, que para se ver livre das importunações do pai dela, que também quer a todo custo libertá-la, exigiu uma soma por tal forma exorbitante, que é quase impossível o pobre homem arranjá-la. — O de casa!... dá licença?— bradou neste momento com voz forte e sonora uma pessoa, que vinha subindo a escada do alpendre. — Quem quer que é, pode entrar, — gritou Leôncio dando graças ao céu, que tão a propósito mandava-lhe uma visita para interromper aquela importuna e detestável questão e livrá-lo dos apuros em que se via entalado.
- Oh, Malvina, estoy dispuesto a hacer todo lo que esté en mi mano para tranquilizarte y contentarte; pero debes saber que no puedo satisfacer tu deseo sin antes llegar a un entendimiento con mi padre, que está en la corte. También debéis saber que mi padre no desea liberar a Isaura, hasta el punto de que para librarse del acoso de su padre, que también quiere liberarla a toda costa, ha exigido una suma tan exorbitante, que es casi imposible que el pobre pueda arreglárselas. - Disculpe -gritó en voz alta un hombre que subía las escaleras del porche-. - Sea quien fuere, pase -exclamó Leoncio, dando gracias al cielo, que le había enviado un visitante para interrumpir sus molestos y detestables negocios y librarle del apuro en que se hallaba.

Entretanto, como se verá, não tinha muito de que congratular-se. O visitante era Miguel, o antigo feitor da fazenda, o pai de Isaura, que havia sido outrora grosseiramente despedido pelo pai de Leôncio. Este, que ainda o não conhecia, recebeu-o com afabilidade.
Sin embargo, como se verá, no tenía mucho de qué alegrarse. El visitante era Miguel, el antiguo mayordomo de la finca, padre de Isaura, que en su día había sido despedido bruscamente por el padre de Leôncio. El padre de Leôncio, que aún no lo conocía, lo recibió calurosamente.

— Queira sentar-se, — disse-lhe, — e dizer-nos o motivo por que nos faz a honra de procurar, — Obrigado! — disse o recém-chegado, depois de cumprimentar respeitosamente Henrique e Malvina. — V. Sa. sem dúvida é o senhor Leôncio?... — Para o servir. — Muito bem!... é com V. Sa. que tenho de tratar na falta do senhor seu pai. O meu negócio é simples, e julgo que o posso declarar em presença aqui do senhor e da senhora, que me parecem ser pessoas de casa. — Sem dúvida! entre nós não há segredo, nem reservas. — Eis aqui ao que vim, senhor meu, — disse Miguel, tirando da algibeira de seu largo sobretudo uma carteira, que apresentou a Leôncio; — faça o favor de abrir esta carteira; aqui encontrará V. Sa. a quantia exigida pelo senhor seu pai, para a liberdade de uma escrava desta casa por nome Isaura.
- Siéntese, por favor -le dije-, y díganos la razón por la que nos hace el honor de buscarnos, -¡Gracias! - dijo el recién llegado, después de saludar respetuosamente a Henrique y Malvina. - ¿Es usted sin duda el señor Leôncio? - Para servirle. - Muy bien, es con usted con quien debo tratar en ausencia de su padre. Mi asunto es sencillo, y creo poder declararlo en presencia de usted y de la señora aquí presente, que me parecen gente de casa. - ¡No hay duda! No hay secretos ni reservas entre nosotros. - A esto he venido, mi señor -dijo Miguel, sacando una cartera del bolsillo de su gran abrigo y presentándosela a Leôncio-: abrid, por favor, esta cartera; aquí encontraréis la cantidad exigida por vuestro padre para la libertad de una esclava de esta casa, llamada Isaura.

Leôncio enfiou, e tomando maquinalmente a carteira, ficou alguns instantes com os olhos pregados no teto. — Pelo que vejo, — disse por fim, — o senhor deve ser o pai... aquele que dizem ser o pai da dita escrava. — é o senhor. — não me lembra o nome.. — Miguel, um criado de V. Sa.
Leoncio se puso pálido, y tomando mecánicamente la billetera, se quedó por unos momentos con los ojos pegados al techo. "Por lo que veo", dijo al fin, "tú debes ser el padre, el que se dice que es el padre de dicho esclavo". - Y usted. — No recuerdo el nombre.. — Miguel, uno de tus sirvientes.

— É verdade; o senhor Miguel. Folgo muito que tenha arranjado meios de libertar a menina; ela bem merece esse sacrifício.
- Es verdad; señor miguel Estoy muy contento de que hayas logrado liberar a la niña; ella bien merece ese sacrificio.

Enquanto Leôncio abre a carteira, e conta e reconta mui pausadamente nota por nota o dinheiro, mais para ganhar tempo a refletir sobre o que deveria fazer naquelas conjunturas, do que para verificar se estava exata a soma, aproveitemonos do ensejo para contemplar a figura do bom e honrado português, pai da nossa heroína, de quem ainda não nos ocupamos senão de passagem. Era um homem de mais de cinqüenta anos; em sua fisionomia nobre e alerta transpirava a franqueza, a bonomia, e a lealdade.
Mientras Leôncio abre su billetera y muy lentamente cuenta y vuelve a contar el dinero billete por billete, más para ganar tiempo para reflexionar sobre lo que debía hacer en esas circunstancias, que para comprobar que la suma era exacta, aprovechemos para contemplar la figura del buen y honrado portugués, padre de nuestra heroína, de quien no nos hemos ocupado todavía sino de pasada. Era un hombre de más de cincuenta años; su noble y alerta semblante destilaba franqueza, bonhomía y lealtad.

Trajava pobremente, mas com muito alinho e limpeza, e por suas maneiras e conversação, conhecia-se que aquele homem não viera ao Brasil, como quase todos os seus patrícios, dominado pela ganância de riquezas. Tinha o trato e a linguagem de um homem polido, e de acurada educação. De feito Miguel era filho de uma nobre e honrada família de miguelistas, que havia emigrado para o Brasil. Seus pais, vítimas de perseguições políticas, morreram sem ter nada que legar ao filho, que deixaram na idade de dezoito a vinte anos. Sozinho, sem meios e sem proteção, viu-se forçado a viver do trabalho de seus braços, metendo-se a jardineiro e horticultor, mister este, que como filho de lavrador, robusto, ativo e inteligente, desempenhava com suma perícia e perfeição.
Vestía pobremente, pero con mucha pulcritud y limpieza, y por sus modales y conversación se sabía que aquel hombre no había venido a Brasil, como casi todos sus compatriotas, dominados por la codicia de riquezas. Tenía el comportamiento y el lenguaje de un hombre educado y bien educado. De hecho Miguel era hijo de una noble y honorable familia de miguelistas, que habían emigrado a Brasil. Sus padres, víctimas de la persecución política, murieron sin tener nada que legar a su hijo, al que dejaron a los dieciocho o veinte años. Solo, sin medios y sin amparo, se vio obligado a vivir del trabajo de sus brazos, convirtiéndose en jardinero y horticultor, oficio que, como hijo de labrador, robusto, activo e inteligente, desempeñó con gran destreza y perfección.

O pai de Leôncio, tendo tido ocasião de conhecê-lo, e apreciando o seu merecimento, o engajou para feitor de sua fazenda com vantajosas condições. Ali serviu muitos anos sempre mui respeitado e querido de todos, até que aconteceulhe a fatal, mas muito desculpável fraqueza, que sabemos, e em consequência da qual foi grosseiramente despedido por seu patrão. Miguel concebeu amargo ressentimento e mágoa profunda, não tanto por si, como por amor das duas infelizes criaturas, que não podia proteger contra a sanha de um senhor perverso e brutal. Mas forçoso lhe foi resignar-se. Não lhe faltava serviço nem acolhimento pelas fazendas vizinhas. Conhecedores de seu mérito, os lavradores em redor o aceitariam de braços abertos; a dificuldade estava na escolha.
El padre de Leoncio, habiendo tenido la oportunidad de conocerlo, y apreciando su valía, lo contrató como mayordomo de su hacienda con ventajosas condiciones. Allí sirvió muchos años, siempre muy respetado y querido por todos, hasta que le sobrevino la fatal pero muy excusable debilidad, que sabemos, y a consecuencia de la cual fue groseramente despedido por su jefe. Miguel concibió un amargo resentimiento y un hondo dolor, no tanto por sí mismo como por el amor de las dos desdichadas criaturas, a quienes no pudo proteger contra la furia de un amo perverso y brutal. Pero se vio obligado a dimitir. No faltó el servicio ni la acogida de las fincas vecinas. Conociendo sus méritos, los granjeros de los alrededores lo aceptarían con los brazos abiertos; la dificultad estaba en la elección.

Optou pelo mais vizinho, para ficar o mais perto possível de sua querida filhinha. Como o comendador quase sempre achava-se na corte ou em Campos, Miguel tinha muita ocasião e facilidade de ir ver a menina, à qual cada vez ia criando mais entranhado afeto. A esposa do comendador, na ausência deste, dava ao português franca entrada em sua casa, e facilitava-lhe os meios de ver e afagar a filhinha, com o que vivia ele mui consolado e contente. De feito o céu tinha dado à sua filha na pessoa de sua senhora uma segunda mãe tão boa e desvelada, como poderia ser a primeira, e que mais do que esta lhe podia servir de amparo e proteção. A morte inesperada daquela virtuosa senhora veio despedaçar-lhe o coração, quebrando-lhe todas as suas lisonjeiras esperanças.
Optó por lo más cercano, para estar lo más cerca posible de su querida hijita. Como el comendador estaba casi siempre en la corte o en Campos, Miguel tuvo ocasión y facilidad de sobra para ir a ver a la muchacha, por quien se encariñaba cada vez más. La mujer del comandante, en su ausencia, dio libre entrada al portugués en su casa, y le facilitó el medio de ver y acariciar a su hijita, con lo cual fue muy consolado y feliz. En efecto, el cielo le había dado a su hija en la persona de su ama una segunda madre tan buena y atenta como hubiera podido ser la primera, y que podría servirle más que ésta como apoyo y protección. La inesperada muerte de aquella virtuosa dama le partió el corazón, haciendo añicos todas sus halagüeñas esperanzas.

Muito pode o amor paterno em uma alma nobre e sensível!... Miguel, sobrepujando todo o ódio, repugnância e asco, que lhe inspirava a pessoa do comendador, não hesitou em ir humilhar-se diante dele, importuná-lo com suas súplicas, rogar-lhe com as lágrimas nos olhos, que abrisse preço à liberdade de Isaura.
¡Cuánto puede el amor paterno en un alma noble y sensible!... Miguel, venciendo todo el odio, la repugnancia y el asco que le inspiraba la persona del Comandante, no vaciló en ir a humillarse ante él, a acosarlo con su súplicas, rogándole con lágrimas en los ojos, que pague un precio por la libertad de Isaura.

— Não há dinheiro que a pague; há de ser sempre minha, — respondia com orgulhoso cinismo o inexorável senhor ao Um dia enfim para se ver livre das importunações e súplicas de Miguel, disse-lhe com mau modo:
— No hay dinero para pagarlo; ella siempre será mía, — respondió el inexorable señor con orgulloso cinismo a Un día por fin para librarse de las importunaciones y súplicas de Miguel, le dijo de malas maneras:

— Homem de Deus, traga-me dentro de um ano dez contos de réis, e lhe entrego livre a sua filha e... deixe-me por caridade. Se não vier nesse prazo, perca as esperanças. — Dez contos de réis! é soma demasiado forte para mim.. – mas não importa!... ela vale muito mais do que isso. Senhor comendador, vou fazer o impossível para trazer-lhe essa soma dentro do prazo marcado. Espero em Deus, que me há de ajudar.
"Hombre de Dios, tráeme diez contos de réis dentro de un año, y te daré a tu hija gratis y... déjame por caridad". Si no llega dentro de ese plazo, pierde la esperanza. — ¡Diez contos de réis! es una suma demasiado fuerte para mí... - ¡pero no importa!... vale mucho más que eso. Señor Comandante, voy a hacer todo lo posible para traerle esa suma dentro del plazo establecido. Espero en Dios que me ayude.

O pobre homem, à força de trabalho e economia, impondo-se privações, vendendo todo o supérfluo, e limitando-se ao que era estritamente necessário, no fim do ano apenas tinha arranjado metade da quantia exigida. Foi-lhe mister recorrer à generosidade de seu novo patrão, o qual, sabendo do santo e nobre fim a que se propunha seu feitor, e do vexame e extorsão de que era vítima, não hesitou em fornecer-lhe a soma necessária, a título de empréstimo ou adiantamento de salários. Leôncio, que como seu pai julgava impossível que Miguel em um ano pudesse arranjar tão considerável soma, ficou atônito e altamente contrariado, quando este se apresentou para lha meter nas mãos.
El pobre, por medio del trabajo y la economía, imponiéndose privaciones, vendiendo todo lo superfluo y limitándose a lo estrictamente necesario, al cabo del año apenas había logrado la mitad de la cantidad requerida. Le fue necesario recurrir a la generosidad de su nuevo jefe, quien, conociendo el santo y noble propósito que se proponía su capataz, y la humillación y extorsión de que era víctima, no dudó en proporcionarle la suma necesaria. , como un préstamo o anticipo de salario. Leoncio, que, como su padre, creía imposible que Miguel pudiera disponer en un año una suma tan considerable, quedó asombrado y muy disgustado cuando se presentó a ponérsela en sus mano

— Dez contos, – disse por fim Leôncio acabando de contar o dinheiro. — É justamente a soma exigida por meu pai. — Bem estólido e avaro é este meu pai, murmurou ele consigo, — eu nem por cem contos a daria. — Senhor Miguel, — continuou em voz alta, entregando-lhe a carteira, — guarde por ora o seu dinheiro; Isaura não me pertence ainda; só meu pai pode dispor dela. Meu pai acha-se na corte, e não deixou-me autorização alguma para tratar de semelhante negócio. Arranje-se com ele.
-Diez contos -dijo por fin Leoncio, terminando de contar el dinero. "Es solo la suma exigida por mi padre". — Muy estólido y avaro es este padre mío, murmuró para sí, — Ni por cien contos lo daría. -Señor Miguel -continuó en voz alta, entregándole su billetera-, quédese con su dinero por ahora; Isaura aún no me pertenece; sólo mi padre puede disponer de él. Mi padre está en la corte y no me ha dejado ninguna autorización para realizar tales negocios. Haz las paces con él.

— Mas V. Sa. é seu filho e herdeiro único, e bem podia por si mesmo... — Alto lá, senhor Miguel! meu pai felizmente é vivo ainda, e não me é permitido desde já dispor de seus bens, como minha herança. — Embora, senhor; tenha a bondade de guardar esse dinheiro e enviá-lo ao senhor seu pai, rogando-lhe da minha parte o favor de cumprir a promessa que me fez de dar liberdade a Isaura mediante essa quantia. — Ainda pões dúvida, Leôncio?! – exclamou Malvina impaciente e indignada com as tergiversações do marido. — Escreve, escreve quanto antes a teu pai; não te podes esquivar sem desonra a cooperar para a liberdade dessa rapariga.
- Pero tu. es su único hijo y heredero, y bien podría hacerlo él mismo... —¡Basta, señor Miguel! afortunadamente mi padre aún vive y no se me permite disponer de sus bienes como mi herencia. “Aunque, señor; Guarda este dinero y envíaselo a tu padre, pidiéndole que cumpla la promesa que me hizo de liberar a Isaura por esta suma. — ¡¿Aún tienes dudas, Leoncio?! – exclamó Malvina impaciente e indignada ante las tergiversaciones de su marido. — Escribe, escribe a tu padre cuanto antes; no puedes eludir sin deshonra cooperar por la libertad de esa chica.

Leôncio, subjugado pelo olhar imperioso da mulher, e pela força das circunstâncias, que contra ele conspiravam, não pôde mais escusar-se. Pálido e pensativo, foi sentar-se junto a uma mesa, onde havia papel e tinta, e de pena em punho pôs-se a meditar em atitude de quem ia escrever. Malvina e Henrique, debruçados a uma janela, conversavam entre si em voz baixa. Miguel, sentado a um canto na outra extremidade da sala, esperava pacientemente, quando Isaura, que do quintal, onde se achava escondida, o tinha visto chegar, entrando no salão sem ser sentida, se lhe apresentou diante dos olhos. Entre pai e filha travou-se a meia voz o seguinte diálogo:
Leoncio, subyugado por la mirada imperiosa de la mujer y por la fuerza de las circunstancias que conspiraban contra él, ya no podía excusarse. Pálido y pensativo, fue a sentarse a una mesa, donde había papel y tinta, y pluma en mano, se puso a meditar en actitud de quien va a escribir. Malvina y Henrique, apoyados en una ventana, hablaban en voz baja. Miguel, sentado en un rincón al otro extremo de la habitación, esperaba pacientemente cuando Isaura, que lo había visto llegar desde el patio trasero, donde se escondía, había entrado al salón sin ser notada, se presentó ante sus ojos. Entre padre e hija se produjo en voz baja el siguiente diálogo:

— Meu pai!... que novidade o traz aqui?... a modo que lhe estou vendo um ar mais alegre que de costume. — Calada! — murmurou Miguel, levando o dedo à boca e apontando para Leôncio. — Trata-se da tua liberdade. — Deveras, meu pai!... mas como pôde arranjar isso? — Ora como?!... a peso de ouro. Comprei-te, minha filha, e em breve vais ser minha.
— ¡Padre mío!... ¿Qué noticias te traen por aquí?... Veo que te ves más alegre que de costumbre. "¡Callarse la boca!" murmuró Miguel, llevándose el dedo a la boca y señalando a Leoncio. “Se trata de tu libertad. — ¡Cierto, padre mío!... pero ¿cómo pudiste arreglar eso? — ¡¿Pues cómo?!... a su peso en oro. Te compré, hija mía, y pronto serás mía.

— Ah! meu querido pai!... como vossemecê é bom para sua filha!... se soubesse quantos hoje já me vieram oferecer a liberdade!... mas por que preço! meu Deus!... nem me atrevo a lhe contar. Meu coração adivinhava, continuou beijando com terna efusão as mãos de Miguel; — eu não devia receber a liberdade senão das mãos daquele que me deu a vida!...
- ¡Oh! ¡mi querido padre!... ¡qué bueno eres con tu hija!... ¡si supieras cuántos hoy han venido a ofrecerme la libertad!... ¡pero a qué precio! ¡Dios mío!... No me atrevo a decírtelo. Mi corazón adivinó, siguió besando las manos de Miguel con tierna efusión; — ¡Debería haber recibido la libertad sólo de manos de quien me dio la vida!...

— Sim, querida Isaura! — disse o velho apertando-a contra o coração. — O céu nos favoreceu, e em breve vais ser minha, minha só, minha para sempre!... — Mas ele consente?... perguntou Isaura apontando para Leôncio. — O negócio não é com ele, é com seu pai, a quem agora escreve. — Nesse caso tenho alguma esperança; mas se minha sorte depender somente daquele homem, serei para sempre escrava. — Arre! com mil diabos!... resmungou consigo Leôncio levantando-se, e dando sobre a mesa um furioso murro com o punho fechado. — Não sei que volta hei de dar para desmanchar esta inqualificável loucura de meu pai! — Já escreveste, Leôncio? — perguntou Malvina voltando-se para dentro.
— ¡Sí, querida Isaura! dijo el anciano, apretándolo contra su corazón. — ¡El cielo nos ha favorecido, y pronto vas a ser mía, sólo mía, mía para siempre!... —¿Pero él consiente?... preguntó Isaura, señalando a Leoncio. — El negocio no es con él, es con su padre, a quien escribe ahora. “Entonces tengo alguna esperanza; pero si mi destino depende sólo de ese hombre, seré para siempre un esclavo. "¡Arre!" ¡Maldita sea!... Leôncio murmuró para sí mismo, levantándose y golpeando furiosamente la mesa con el puño cerrado. "¡No sé cuánto tiempo atrás tendré que deshacer esta indecible locura de mi padre!" — ¿Has escrito, Leoncio? preguntó Malvina, volteándose hacia adentro.

Antes que Leôncio pudesse responder a esta pergunta, um pajem, entrando rapidamente pela sala, entrega-lhe uma carta tarjada de preto. — De luto!... meu Deus!... que será! — exclamou Leôncio, pálido e trêmulo, abrindo a carta, e depois de a ter percorrido rapidamente com os olhos lançou-se sobre uma cadeira, soluçando e levando o lenço aos olhos. — Leôncio! Leôncio!... que tem?... exclamou Malvina pálida de susto; e tomando a carta que Leôncio atirara sobre a mesa, começou a ler com voz entrecortada: "Leôncio, tenho a dar-te uma dolorosa notícia, para a qual teu coração não podia estar preparado. E um golpe, pelo qual todos nós temos de passar inevitavelmente, e que deves suportar com resignação. Teu pai já não existe; sucumbiu anteontem subitamente, vítima de uma congestão cerebral..."
Antes de que Leôncio pudiera responder a esta pregunta, un paje, entrando rápidamente en la habitación, le entrega una carta bordeada de negro. — ¡De luto!... ¡Dios mío!... ¡qué será! exclamó Leoncio, pálido y tembloroso, abriendo la carta, y después de haberla recorrido rápidamente con los ojos, se tiró en una silla, sollozando y llevándose el pañuelo a los ojos. "¡Leoncio!" ¡Leôncio!... ¿qué te pasa?... exclamó Malvina, pálida de espanto; y tomando la carta que Leoncio había tirado sobre la mesa, comenzó a leer con voz quebrada: "Leôncio, tengo que darte una noticia dolorosa, para la cual tu corazón no pudo estar preparado. Y un golpe, para el cual todos tienen que pasar inevitablemente, y que debes soportar con resignación. Tu padre ya no existe; sucumbió repentinamente anteayer, víctima de una congestión cerebral..."

Malvina não pôde continuar; e nesse momento, esquecendo-se das injúrias e de tudo que lhe havia acontecido naquele nefasto dia, lançou-se sobre seu marido, e abraçando-se com ele estreitamente, misturava suas lágrimas com as dele. —Ah! meu pai! meu pai!... tudo está perdido! — exclamou Isaura, pendendo a linda e pura fronte sobre o peito de Miguel. — Já nenhuma esperança nos resta!... —Quem sabe, minha filha! — replicou gravemente o pai. – Não desanimemos; grande é o poder de Deus!...
Malvina no pudo continuar; y en ese momento, olvidándose de las heridas y de todo lo que le había acontecido en aquel desastroso día, se arrojó sobre su marido, y abrazándolo con fuerza, mezcló sus lágrimas con las de él. -¡Oh! ¡mi padre! ¡padre mío!... ¡todo está perdido! exclamó Isaura, apoyando su hermosa y pura frente sobre el pecho de Miguel. — ¡No nos queda esperanza!... — ¡Quién sabe, hija mía! respondió el padre gravemente. – No nos desanimemos; grande es el poder de Dios!



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