3° capítulo

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Falta-nos ainda conhecer mais de perto a Henrique, o cunhado de Leôncio. Era ele um elegante e bonito rapaz de vinte anos, frívolo, estouvado e vaidoso, como são quase sempre todos os jovens, mormente quando lhes coube a ventura de terem nascido de um pai rico. Não obstante esses ligeiros senões, tinha bom coração e bastante dignidade e nobreza de alma. Era estudante de medicina, e como estava-se em férias, Leôncio o convidara a vir visitar a irmã e passar alguns dias em sua fazenda.
Nos falta saber más sobre Henrique, el cuñado de Leôncio. Era un joven elegante y apuesto de veinte años, frívolo, presumido y vanidoso, como casi todos los jóvenes, sobre todo cuando tienen la suerte de nacer de un padre rico. A pesar de estos pequeños defectos, tenía un buen corazón y mucha dignidad y nobleza de alma. Era estudiante de medicina y, como estaba de vacaciones, Leôncio lo invitó a visitar a su hermana y pasar unos días en su granja.

Os dois mancebos chegavam de Campos, onde Leôncio desde a véspera linha ido ao encontro do cunhado.
Los dos jóvenes llegaron de Campos, donde Leôncio había ido a encontrarse con su cuñado el día anterior.

Só depois de casado Leôncio, que antes disso poucas e breves estadas fizera na casa paterna, começou a prestar atenção à extrema beleza e às graças incomparáveis de Isaura. Posto que lhe coubesse em sorte uma linda e excelente mulher, ele não se havia casado por amor, sentimento esse a que seu coração até ali parecia absolutamente estranho. Casara-se por especulação, e como sua mulher era moça e bonita, sentira apenas por ela paixão, que se ceva no gozo dos prazeres sensuais, e com eles se extingue. Estava reservado à infeliz Isaura fazer vibrar profunda e violentamente naquele coração as fibras que ainda não estavam de todo estragadas pelo atrito da devassidão.
Sólo después de su matrimonio, Leôncio, que hasta entonces sólo había pasado unos breves momentos en casa de su padre, comenzó a prestar atención a la extrema belleza y a las incomparables gracias de Isaura. A pesar de tener la suerte de contar con una bella y excelente esposa, no se había casado por amor, sentimiento al que hasta entonces su corazón le había parecido totalmente ajeno. Se había casado por especulación, y como su esposa era joven y hermosa, sólo había sentido por ella la pasión, que se mezcla en el goce de los placeres sensuales, y con ellos se extingue. A la infeliz Isaura le estaba reservado hacer vibrar profunda y violentamente las fibras de aquel corazón, las que aún no estaban arruinadas por el roce del libertinaje.

Concebeu por ela o mais cego e violento amor, que de dia em dia ia crescendo na razão direta dos sérios e poderosos obstáculos que encontrava, obstáculos a que não estava afeito, e que em vão se esforçava para superar. Mas nem por isso desistia de sua tresloucada empresa, porque em fim de contas, — pensava ele, — Isaura era propriedade sua, e quando nenhum outro meio fosse eficaz, restava-lhe o emprego da violência.
Sentía por ella un amor ciego y violento, que crecía día a día en proporción directa a los graves y poderosos obstáculos que encontraba, obstáculos a los que no estaba acostumbrado y que se esforzaba en vano por superar. Pero no renunciaba a su loca empresa, porque al fin y al cabo, pensaba, Isaura era de su propiedad, y cuando ningún otro medio resultaba eficaz, lo único que podía hacer era emplear la violencia.

Leôncio era um digno herdeiro de todos os maus instintos e da brutal devassidão do comendador.
Leôncio era un digno heredero de todos los malos instintos y del libertinaje brutal del comandante.

Pelo caminho, como sua mente andava sempre cheia da imagem de Isaura, Leôncio conversara longamente com seu cunhado a respeito dela, exaltando-lhe a beleza, e deixando transluzir com revoltante cinismo as lascivas intenções que abrigava no coração. Esta conversação não agradava muito a Henrique, que às vezes corava de pejo e de indignação por sua irmã, mas não deixou de excitar-lhe viva curiosidade de conhecer uma escrava de tão extraordinária beleza.
Por el camino, como su mente estaba siempre llena de la imagen de Isaura, Leôncio hablaba largo y tendido con su cuñado sobre ella, exaltando su belleza y dejando traslucir con repugnante cinismo las lujuriosas intenciones de su corazón. Esta conversación no agradaba a Enrique, que a veces se ruborizaba de vergüenza e indignación por su hermana, pero excitaba su curiosidad por conocer a una esclava de tan extraordinaria belleza.

No dia seguinte ao da chegada dos mancebos às oito horas da manhã, Isaura, que acabava de espanejar os móveis e arranjar o salão, achava-se sentada junto a uma janela e entrelinha-se a bordar, à espera que seus senhores se levantassem para servir-lhes o café. Leôncio e Henrique não tardaram em aparecer, e parando à porta do salão puseram-se a contemplar Isaura, que sem se aperceber da presença deles continuava a bordar distraidamente.
Al día siguiente de la llegada de los jóvenes, a las ocho de la mañana, Isaura, que acababa de terminar de ordenar los muebles y decorar el salón, estaba sentada junto a una ventana, bordando, esperando a que sus amos se levantaran para servirles el café. Leôncio y Henrique no tardaron en aparecer y, de pie en la puerta del salón, se pusieron a contemplar a Isaura que, ajena a su presencia, seguía bordando distraídamente.

— Então, que te parece? segredava Leôncio a seu cunhado. — Uma escrava desta ordem não é um tesouro inapreciável? Quem não diria que uma andaluza de Cádiz, ou uma napolitana?... — Não é nada disso; mas é coisa melhor, respondeu Henrique maravilhado; é uma perfeita brasileira.
- ¿Qué te parece? susurró Leôncio a su cuñado. - ¿No es un esclavo de este orden un tesoro de valor incalculable? ¿Quién no diría que una andaluza de Cádiz, o una napolitana? - Ella no es nada de eso; pero es algo mejor, replicó Henrique asombrado; es una perfecta brasileña.

— Qual brasileira! é superior a tudo quanto há. Aqueles encantos e aquelas dezessete primaveras em uma moça livre, teriam feito virar o juízo a muita gente boa. Tua irmã pretende com instância, que eu a liberte, alegando que essa era a vontade de minha defunta mãe; mas nem tão tolo sou eu, que me desfaça assim sem mais nem menos de uma jóia tão preciosa. Se minha mãe teve o capricho de criá-la com todo o mimo e de dar-lhe uma primorosa educação, não foi decerto para abandoná-la ao mundo, não achas?... Também meu pai parece que cedeu às instâncias do pai dela, que é um pobre galego, que por ai anda, e que pretende libertá-la; mas o velho pede por ela tão exorbitante soma, que julgo nada dever recear por esse lado. Vê lá, Henrique, se há nada que pague uma escrava assim?...
- ¡Qué brasileña! Es superior a todo lo que hay. Esos encantos y esas diecisiete primaveras en una muchacha libre habrían hecho cambiar de opinión a mucha gente de bien. Tu hermana me insta a que la libere, alegando que fue voluntad de mi difunta madre; pero no soy tan necio como para desechar una joya tan preciada. Si mi madre tuvo el capricho de criarla con todo el cariño y darle una educación exquisita, desde luego no fue para abandonarla al mundo, ¿no crees? Mi padre también parece haber cedido a los ruegos de su progenitora, que es una pobre gallega que anda por ahí, y quiere liberarla; pero el viejo pide por ella una suma tan exorbitante, que creo que no debo temer por ese lado. ¿Ves, Enrique, si no hay nada que pagar por semejante esclava?

— É com efeito encantadora — replicou o moço, — se estivesse no serralho do sultão, seria sua odalisca favorita. Mas devo notar-te, Leôncio, – continuou, cravando no cunhado um olhar cheio de maliciosa penetração, — como teu amigo e como irmão de tua mulher, que o teres em tua sala e ao lado de minha irmã uma escrava tão linda e tão bem tratada não deixa de ser inconveniente e talvez perigoso para a tranqüilidade doméstica...
- En verdad es encantadora -respondió el joven-; si estuviera en el aserradero del sultán, sería su odalisca favorita. Pero debo decirte, Leôncio -continuó, dirigiendo a su cuñado una mirada llena de maliciosa penetración-, como amigo tuyo y hermano de tu mujer, que tener una esclava tan hermosa y bien tratada en tu habitación y al lado de mi hermana no deja de ser inconveniente, y tal vez peligroso para la tranquilidad doméstica...

— Bravo! — atalhou Leôncio, galhofando, — para a idade que tens, já estás um moralista de polpa!... mas não te dê isso cuidado, meu menino; tua irmã não tem dessas veleidades, e é ela mesma quem mais gosta de que Isaura seja vista e admirada por todos. E tem razão; Isaura é como um traste de luxo, que deve estar sempre exposto no salão. — Querias que eu mandasse para a cozinha os meus espelhos de Veneza?... Malvina, que vinha do interior da casa, risonha, fresca e alegre como uma manhã de abril, veio interromper-lhes a conversação.
- ¡Bravo! - se burló Leôncio, bromeando- ¡Ya eres un moralista a tu edad!... pero no tengas cuidado, muchacho; tu hermana no tiene esos caprichos, y a ella misma le gusta que Isaura sea vista y admirada por todos. Y tiene razón; Isaura es como un trasto de lujo, que debería estar siempre expuesto en el salón. - ¿Quiere que envíe mis espejos venecianos a la cocina? Malvina, que venía del interior de la casa, risueña, fresca y alegre como una mañana de abril, vino a interrumpir su conversación.

— Bom dia, senhores preguiçosos! — disse ela com voz argentina e festiva como o trino da andorinha. — Até que enfim sempre se levantaram! — Estás hoje muito alegre, minha querida, — retorquiu-lhe sorrindo o marido; — viste algum passarinho verde de bico dourado?...
- ¡Buenos días, señores vagos! - dijo con una voz tan argentina y festiva como el trino de la golondrina. - ¡Por fin te has levantado! - Estás muy alegre hoy, querida -le devolvió la sonrisa su marido-, ¿has visto un pájaro verde con pico de oro?

— Não vi, mas hei de ver; estou alegre mesmo, e quero que hoje aqui em casa seja um dia de festa para todos. Isto depende de ti, Leôncio, e estava aflita por te ver de pé; quero dizer-te uma coisa; já devia tê-la dito ontem, mas o prazer de ver este ingrato de irmão, que há tanto tempo não vejo, me fez esquecer... — Mas o que é?... fala, Malvina. — Não te lembras de uma promessa, que sempre me fazes, promessa sagrada, que há muito tempo devia ter sido cumprida?... hoje quero absolutamente, exijo, o seu cumprimento. — Deveras?... mas que promessa?... não me lembro. — Ah! como te fazes de esquecido!... não te lembras, que me prometeste dar liberdade a...
- No lo he visto, pero lo veré; estoy muy contento, y quiero que hoy en casa sea un día de fiesta para todos. Esto depende de ti, Leôncio, y estaba ansiosa por verte en pie; quiero decirte algo; debería habértelo dicho ayer, pero el placer de ver a este hermano ingrato, al que hace tanto que no veo, me hizo olvidar... - Pero, ¿qué es? Habla, Malvina. - ¿No recuerdas una promesa que siempre me haces, una promesa sagrada que debería haber sido cumplida hace mucho tiempo? - ¿De verdad?... ¿Pero qué promesa?... No me acuerdo. - ¡Ah! ¡Qué olvidadiza eres! .... ¿No recuerdas que prometiste dar libertad a...

— Ah! já sei, já sei; — atalhou Leôncio com impaciência. – Mas tratar disso aqui agora? em presença dela?... que necessidade há de que nos ouça? — E que mal faz isso? mas seja como quiseres, — replicou a moça tomando a mão de Leôncio e levando-o para o interior da casa; — vamos cá para dentro. Henrique, espera aí um momento, enquanto eu vou mandar preparar-nos o café.
- Lo sé, lo sé -respondió Leôncio con impaciencia-. - Pero, ¿hablarlo ahora aquí, en su presencia? ¿Qué necesidad hay de que nos oiga? - ¿Y qué mal hay en eso? Pero que así sea -respondió la muchacha, tomando la mano de Leôncio y conduciéndolo a la casa-; entremos. Henrique, espera ahí un momento, mientras voy a prepararnos el café.

Só depois da chegada de Malvina, Isaura deu pela presença dos dois mancebos, que a certa distância a contemplavam cochichando a respeito dela. Também pouco ouviu ela e nada compreendeu do rápido diálogo que tivera lugar entre Malvina e seu marido. Apenas estes se retiraram ela também se levantou e ia sair, mas Henrique, que ficara só, a deteve com um gesto.
Sólo después de la llegada de Malvina, Isaura se percató de que los dos jóvenes cuchicheaban sobre ella desde la distancia. Tampoco oyó ni entendió nada del rápido diálogo que tuvo lugar entre Malvina y su marido. Cuando se marcharon, ella también se levantó y se disponía a salir, pero Enrique, que se había quedado solo, la detuvo con un gesto.

— Que me quer, senhor? — disse ela baixando os olhos com humildade. — Espera ai, menina; tenho alguma coisa a dizer-te, — replicou o moço, e sem dizer mais nada colocou-se diante dela devorando-a com os olhos, e como extático contemplando-lhe a maravilhosa beleza.
- ¿Qué quiere de mí, señor? - dijo ella, bajando humildemente los ojos. - Espere, señorita; tengo algo que decirle -contestó el joven, y sin decir nada más se detuvo ante ella, devorándola con la mirada, y como si contemplara extasiado su maravillosa belleza.

Henrique sentia-se acanhado diante daquela nobre figura radiante de beleza, e de angélica serenidade. Por seu lado Isaura também olhava para o moço, atônita e tolhida, esperando em vão que lhe dissesse o que queria. Por fim Henrique, afoito, e estouvado como era, lembrando-se que Isaura, a despeito de toda a sua formosura, não passava de uma escrava, entendeu que fazia um ridículo papel, deixando-se ali ficar diante dela em muda e extática contemplação, e chegando-se a ela com todo o desembaraço e petulância travou-lhe da mão, e...
Enrique se sintió tímido ante aquella noble figura radiante de belleza y serenidad angelical. Por su parte, Isaura también le miraba, atónita y estupefacta, esperando en vano que le dijera lo que quería. Por fin, Enrique, impaciente y necio como era, recordando que Isaura, a pesar de toda su belleza, no era más que una esclava, comprendió que estaba representando un papel ridículo, y se quedó ante ella en muda y extática contemplación.

— Mulatinha, disse, — tu não fazes idéia de quanto és feiticeira. — Minha irmã tem razão; é pena que uma menina assim tão linda não seja mais que uma escrava. Se tivesses nascido livre, serias incontestavelmente a rainha dos salões. — Está bem, senhor, está bem! replicou Isaura soltando-se da mão de Henrique; se é só isso o que tinha a dizer-me, deixe-me ir embora. — Espera ainda um pouco; não sejas assim má; eu não te quero fazer mal algum. Oh! quanto eu daria para obter a tua liberdade, se com ela pudesse obter também o teu amor!... És muito mimosa e muito linda para ficares por muito tempo no cativeiro; alguém impreterivelmente virá arrancar-te dele, e se hás de cair nas mãos de algum desconhecido, que não saberá dar-te o devido apreço, seja eu, minha Isaura, seja o irmão de tua senhora, que de escrava te haja de fazer uma princesa...
- Mulatinha, dijo, - no tienes idea de lo hechicera que eres. - Mi hermana tiene razón; es una lástima que una muchacha tan hermosa no sea más que una esclava. Si hubieras nacido libre, serías sin duda la reina de los salones. - Está bien, señor, ¡está bien! replicó Isaura, soltándose de la mano de Enrique. Si eso es todo lo que teníais que decirme, dejadme marchar. - Espera todavía un poco; no seas tan malo; no quiero hacerte daño. ¡Oh, lo que daría por obtener tu libertad, si con ella pudiera obtener tu amor! Eres demasiado tierna y demasiado hermosa para permanecer mucho tiempo en cautiverio; alguien vendrá inevitablemente a arrebatarte de él, y caerás en manos de algún extraño que no sabrá apreciarte, ya sea yo, mi Isaura, o el hermano de tu ama, que hará de ti una princesa esclava...

—Ah! senhor Henrique! retorquiu a menina com enfado; — o senhor não se peja de dirigir esses galanteios a uma escrava de sua irmã? isso não lhe fica bem; há por aí tanta moça bonita, a quem o senhor pode fazer a corte... — Não; ainda não vi nenhuma que te iguale, Isaura, eu te juro. — Olha, Isaura; ninguém mais do que eu está nas circunstâncias de conseguir a tua liberdade; sou capaz de obrigar Leôncio a te libertar, porque, se me não engano, já lhe adivinhei os planos e as intenções, e protesto-te que hei de burlálos todos; é uma infâmia em que não posso consentir. Além da liberdade terás tudo o que desejares, sedas, jóias, carros, escravos para te servirem, e acharás em mim um amante extremoso, que sempre te há de querer, e nunca te trocará por quanta moça há por esse mundo, por bonita e rica que seja, porque tu só vales mais que todas elas juntas.
-Señor Henrique -respondió la muchacha-, ¿no os avergonzáis de dirigir semejantes galanterías a una esclava de vuestra hermana? Eso no va con vos; hay tantas muchachas hermosas por ahí, a las que podéis cortejar... - No, aún no he visto ninguna que sea como tú, Isaura, te lo juro. - Mira, Isaura; nadie está en condiciones de conquistar tu libertad más que yo; soy capaz de obligar a Leôncio a dejarte libre, porque, si no me equivoco, ya he adivinado sus planes e intenciones, y te protesto que los burlaré todos; es una desgracia que no puedo consentir. Además de la libertad tendrás todo lo que desees, sedas, joyas, carros, esclavos que te sirvan, y en mí encontrarás un amante extremo, que te amará siempre, y nunca te cambiará por ninguna muchacha del mundo, por hermosa o rica que sea, porque sólo tú vales más que todas ellas juntas.

— Meu Deus! — exclamou Isaura com um ligeiro tom de mofa; — tanta grandeza me aterra; isso faria virar-me o juízo. Nada, meu senhor; guarde suas grandezas para quem melhor as merecer; eu por ora estou contente com a minha sorte. — Isaura!... para que tanta crueldade!... escuta, — disse o moço lançando o braço ao pescoço de Isaura. — Senhor Henrique! - gritou ela esquivando-se ao abraço, — por quem é, deixe-me em paz! — Por piedade, Isaura! - insistiu o rapaz continuando a querer abraçá-la; — oh!... não fales tão alto!... um beijo... um beijo só, e já te deixo...
- ¡Dios mío! - exclamó Isaura, con una leve burla, tanta grandeza me horroriza; me trastornaría la mente. Nada, mi señor; reservad vuestra grandeza para quien mejor la merezca; por ahora me contento con mi suerte. - Escucha -dijo el joven, echando el brazo al cuello de Isaura. - ¡Señor Enrique! - gritó ella, esquivando el abrazo-, por favor, ¡déjeme en paz! - ¡Por piedad, Isaura! - insistió el muchacho, que seguía queriendo abrazarla-; ¡oh, no hables tan alto!

— Se o senhor continua, eu grito mais alto. Não posso aqui trabalhar um momento, que não me venham perturbar com declarações que não devo escutar... — Oh! como está altaneira! - exclamou Henrique, já um tanto agastado com tanta resistência. – Não lhe falta nada!... tem até os ares desdenhosos de uma grande senhora!... não te arrufes assim, minha princesa...
- Si continúan, gritaré más fuerte. No puedo trabajar aquí ni un momento, no sea que vengan a molestarme con declaraciones que no debo escuchar.... - ¡Oh, qué altanero eres! - exclamó Enrique, ya un poco molesto por tanta resistencia. - No os falta de nada!... ¡hasta tenéis el aire desdeñoso de una gran dama!... no os arruinéis así, princesa mía...

— Arre lá, senhor! — bradou a escrava já no auge da impaciência. — Já não bastava o senhor Leôncio!... agora vem o senhor também... — Como?... que estás dizendo?... também Leôncio?... oh!... oh! bem o coração me estava adivinhando!... que infâmia!... mas decerto tu o escutas com menos impaciência, não é assim? — Tanto como escuto ao senhor. — Não duvido Isaura; a lealdade, que deves a tua senhora, que tanto te estima, não te permite que dês ouvidos àquele perverso. Mas comigo o caso é diferente; que motivo há para seres cruel assim? — Eu cruel para com meus senhores!!! Ora, senhor, pelo amor de Deus!... Não esteja assim a escarnecer de uma pobre cativa. — Não! não escarneço... Isaura!... escuta, — exclamava Henrique forcejando para abraçá-la e furtar-lhe um beijo. — Bravo!... bravíssimo! — retumbou pelo salão uma voz acompanhada de sardônica e estrepitosa gargalhada.
- ¡Vamos, señor! - gritó el esclavo en el colmo de la impaciencia. - El Sr. Leôncio no era suficiente!... ahora tú también vienes... - ¿Qué?... ¿qué estás diciendo?... ¿también Leôncio?... ¡oh!... ¡oh! ¡mi corazón estaba adivinando!... ¡qué infamia!... pero seguro que tú le escuchas con menos impaciencia, ¿no? - Tanto como yo te escucho a ti. - No lo dudo, Isaura; la lealtad que debes a tu ama, que te tiene en tan alta estima, no te permite escuchar a ese malvado. Pero conmigo es diferente; ¿qué razón tienes para ser tan cruel? - ¡Soy cruel con mis amos! ¡Por Dios, señor! No te burles así de un pobre cautivo. - No, no lo hago. Escucha -exclamó Enrique, esforzándose por abrazarla y robarle un beso-. - ¡Bravo, bravissimo! - resonó una voz en la habitación, acompañada de una risa sardónica y estridente.

Henrique voltou-se sobressaltado. Toda a sua amorosa exaltação tinha-selhe gelado de súbito no âmago do coração. Leôncio estava em pé no meio da porta, de braços cruzados e olhando para ele com sorriso do mais insultante escárnio. — Bravo! muito bem, senhor meu cunhado! - continuou Leôncio no mesmo tom de mofa. — Está pondo em prática belissimamente as suas lições de moral!... requestando-me as escravas!... está galante!... sabe respeitar divinamente a casa de sua irmã!... — Ah! maldito importuno! murmurou Henrique, trincando os dentes de cólera, e seu primeiro impulso foi investir de punho fechado, e responder com cachações aos insolentes sarcasmos do cunhado.
Henry se dio la vuelta sobresaltado. Toda su emoción amorosa se había congelado de repente en el fondo de su corazón. Leoncio estaba de pie en medio de la puerta, cruzado de brazos y mirándole con la sonrisa más insultante y desdeñosa. - ¡Bravo, bien hecho, cuñado mío! - continuó Leôncio en el mismo tono mohoso-. - Estás poniendo en práctica maravillosamente tus lecciones de moral... solicitando a mis esclavos... eres galante... sabes respetar divinamente la casa de tu hermana... - Ah, maldito alborotador -murmuró Enrique, apretando los dientes de rabia, y su primer impulso fue irrumpir con el puño cerrado y contestar con carcajadas a los insolentes sarcasmos de su cuñado.

Refletindo porém um momento, sentiu que lhe seria mais vantajoso empregar contra o seu agressor a mesma arma de que se servira contra ele, o sarcasmo, que as circunstâncias lhe permitiam vibrar de modo vitorioso e decisivo. Acalmou-se, pois, e com sorriso de soberano desdém:
Sin embargo, reflexionando un momento, pensó que le sería más ventajoso utilizar contra su agresor la misma arma que había empleado contra él, el sarcasmo, que las circunstancias le permitían hacer vibrar de forma victoriosa y decisiva. Se serenó, y con una sonrisa de soberano desdén

— Ah! perdão, meu cunhado! — disse ele não sabia que a peregrina jóia do seu salão lhe merecesse tanto cuidado, que o levasse a ponto de andá-la espionando; creio que tem mais zelo por ela do que mesmo pelo respeito que se deve à sua casa e à sua mulher. Pobre de minha irmã!... é bem simples, e admira que, há mais tempo, não tenha conhecido o belo marido que possui!... — O que estás dizendo, rapaz? — bradou Leôncio com gesto ameaçador; — repete; que estás dizendo?
- ¡Ah, perdóname, cuñado mío! - dijo, que no sabía que la peregrina joya de su salón mereciera tanto cuidado, como para hacerle llegar a espiarla; creo que tiene más celo por ella que incluso por el respeto debido a su casa y a su esposa. Pobre mi hermana!... es muy sencilla, y se pregunta por qué no llegó a conocer al apuesto marido que tiene desde hace más tiempo.... - ¿Qué estás diciendo, muchacho? - gritó Leôncio con gesto amenazador; - repite; ¿qué estás diciendo?

— O mesmo que o senhor acaba de ouvir, — redargüiu Henrique com firmeza, — e fique certo que o seu indigno procedimento não há de ficar por muito tempo oculto à minha irmã. — Qual procedimento!? tu deliras, Henrique?... — Faça-se de esquerdo!... pensa que não sei tudo?... enfim adeus, senhor Leôncio: eu me retiro, porque seria altamente inconveniente, indigno e ridículo da minha parte estar a disputar com o senhor por amor de uma escrava. — Espera, Henrique... escuta...
- Lo mismo que acabas de oír -suplicó Enrique con firmeza-, y ten por seguro que tu indigno comportamiento no permanecerá oculto a mi hermana por mucho tiempo. - ¡Qué procedimiento! ¿Deliras, Enrique? - Toca la izquierda!... ¿crees que no lo sé todo?... por fin adiós, señor Leôncio: me voy, pues sería muy indecoroso, indigno y ridículo por mi parte disputar contigo por el amor de una esclava. - Espera, Enrique... escucha...

— Não, não; não tenho negócio nenhum com o senhor. Adeus! — disse e retirou-se precipitadamente.
- No, no; no tengo nada que hacer contigo. Adiós. - dijo, y se retiró precipitadamente.

Leôncio sentiu-se esmagado, e arrependeu-se mil e uma vezes de ter provocado tão imprudentemente aquele leviano e estouvado rapaz. Ignorava que seu cunhado estivesse ao fato da paixão que sentia por Isaura, e dos esforços que empregava para vencer-lhe a isenção e lograr seus favores. verdade que lhe havia falado sem muito rebuço a esse respeito; mas algumas palavras ditas entre rapazes, em tom de mera chocarrice, não constituíam base suficiente para que sobre ela Henrique pudesse articular uma acusação contra ele em face de sua mulher.
Leôncio se sintió aplastado, y se arrepintió una y mil veces de haber provocado tan imprudentemente a aquel muchacho frívolo y necio. No sabía que su cuñado estaba enterado de la pasión que sentía por Isaura, y de los esfuerzos que hacía para conquistar su exención y ganar sus favores.

Decerto a rapariga lhe havia revelado alguma coisa, e isto o fazia espumar de despeito e raiva contra um e outra. Bem pouco lhe importava a perturbação da paz doméstica, o que o enfurecia era o perigo em que se colocara de ver desconcertados os seus perversos desígnios sobre a gentil escrava.
Seguramente la muchacha le había revelado algo, y esto le hizo echar espumarajos de rencor y rabia contra ambos. Poco le importaba la perturbación de la paz doméstica; lo que le enfurecía era el peligro en que se había puesto de ver desconcertados sus perversos designios sobre la gentil esclava.

— Maldição! — rugia ele lá consigo. — Aquele maluco é bem capaz de desconcertar todos os meus planos. Se sabe alguma coisa, como parece, não porá dúvida em levar tudo aos ouvidos de Malvina... Leôncio ficou por alguns momentos em pé, imóvel, sombrio, carrancudo, com o espírito entregue à cruel inquietação que o fustigava.
- ¡Maldita sea! - gruñó para sí. - Ese loco es capaz de desbaratar todos mis planes. Si sabe algo, como parece, no dudará en llevarlo a oídos de Malvina... Leôncio permaneció unos instantes inmóvil, sombrío, con el ceño fruncido, entregado a la cruel inquietud que lo acosaba.

Depois, pairando as vistas em derredor, deu com os olhos em Isaura, a qual, desde que Leôncio se apresentara, corrida, trêmula e anelante, fora sumir-se em um canto da sala; dali presenciara em silenciosa ansiedade a altercação dos dois moços, como corça mal ferida escutando o rugir de dois tigres, que disputaram entre si o direito de devorá-la. Por seu lado também se arrependia do intimo d'alma, e raivava contra si mesma pela indiscreta e louca revelação, que em um assomo de impaciência deixara escapar dos seus lábios.
Entonces, mirando a su alrededor, divisó a Isaura, que, después de que Leôncio se hubiera adelantado, corriendo, temblorosa y anhelante, había desaparecido en un rincón de la habitación; desde allí había observado con silenciosa ansiedad el altercado de los dos jóvenes, como un ciervo malherido que escucha el rugido de dos tigres, que se disputan entre sí el derecho a devorarlo. Por su parte, ella también se arrepentía en el fondo de su alma, y rabiaba contra sí misma por la indiscreta y descabellada revelación, que en un arrebato de impaciencia había dejado escapar de sus labios.

Sua imprudência ia ser causa da mais deplorável discórdia no seio daquela família, discórdia, de que por fim de contas ela viria a ser a principal vítima. A desavença entre os dois mancebos era como o choque de duas nuvens, que se encontram e continuam a pairar tranqüilamente no céu; mas o raio desprendido de seu seio teria de vir certeiro sobre a fronte da infeliz cativa.
Su imprudencia iba a ser la causa de la más deplorable discordia en el seno de aquella familia, discordia de la que ella sería a la postre la principal víctima. La disputa entre los dos jóvenes era como el choque de dos nubes que se encuentran y siguen planeando tranquilamente en el cielo; pero el rayo que surgía de su seno iba a dar de lleno en la frente de la desdichada cautiva.



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